Festas Menores e Dias Memoriais no Judaísmo (Chanucá)

Por: David Havilá 

  • Além das principais festas bíblicas como Pessach, Shavuot, Rosh Hashaná, Yom Kipur e Sucot, o calendário judaico é enriquecido por uma série de celebrações menores e dias memoriais que comemoram eventos históricos significativos, vitórias sobre a opressão, e momentos de reflexão nacional. Estas observâncias, algumas com raízes bíblicas e outras desenvolvidas em períodos históricos posteriores, adicionam textura e profundidade à experiência judaica, conectando gerações através de rituais compartilhados e memória coletiva. Compreender estas festas menores e dias memoriais é essencial para apreciar a riqueza da tradição judaica e sua capacidade de responder criativamente a novos desafios históricos.

Chanucá – A Festa das Luzes


Origens Históricas

Chanucá comemora a vitória dos Macabeus, um pequeno grupo de guerreiros judeus liderados por Judá Macabeu, sobre o poderoso exército do Império Selêucida sob Antíoco IV Epifânio no século II AEC. Após três anos de luta, os Macabeus reconquistaram Jerusalém em 164 AEC e purificaram o Templo, que havia sido profanado com sacrifícios de porcos e instalação de estátuas de divindades gregas.

A história é registrada nos Livros dos Macabeus (não incluídos na Bíblia Hebraica, mas preservados na tradição judaica e nas escrituras católicas e ortodoxas). De acordo com a tradição talmúdica, quando os Macabeus reconsagraram o Templo, encontraram apenas um pequeno frasco de azeite puro suficiente para manter a Menorá (candelabro) acesa por um dia, mas milagrosamente o óleo durou oito dias – o tempo necessário para produzir novo azeite ritualmente puro.

É importante notar que os Livros dos Macabeus não mencionam o milagre do óleo, focando principalmente na vitória militar e reconsagração do Templo. O milagre aparece pela primeira vez no Talmud, compilado séculos depois:

“Quando os gregos entraram no Templo, contaminaram todo o óleo que estava no Templo. Quando o reino da Casa dos Hasmoneus prevaleceu e os derrotou, procuraram e encontraram apenas um frasco de óleo com o selo do Sumo Sacerdote, contendo óleo suficiente para acender [a Menorá] por um dia. Um milagre ocorreu e eles acenderam com ele por oito dias.” (Talmud Babilônico, Shabat 21b)

Esta dualidade – celebração tanto de vitória militar quanto de milagre espiritual – moldou o caráter multifacetado de Chanucá através dos séculos.



Acendimento da Chanukiá


O ritual central de Chanucá é o acendimento da chanukiá (candelabro de nove braços, diferente da menorá tradicional de sete braços). Oito luzes representam os oito dias do milagre, enquanto a nona luz, chamada shamash (“servo”), é usada para acender as outras.

As velas são acesas após o pôr do sol (exceto na sexta-feira, quando são acesas antes do início do Shabat), com número crescente de velas a cada noite – uma no primeiro dia, duas no segundo, e assim por diante. A chanukiá é tradicionalmente colocada perto de janela ou porta para “publicar o milagre” (pirsumei nisa) para o mundo exterior.

Duas bênçãos são recitadas antes do acendimento (uma terceira é adicionada apenas na primeira noite), seguidas pelo canto de “Hanerot Halalu” (“Estas Luzes”) e o hino “Maoz Tzur” (“Rocha Forte”), que reconta várias instâncias de libertação na história judaica.



Alimentos fritos em óleo são consumidos para comemorar o milagre do óleo, principalmente:

– Latkes: Panquecas de batata ralada, populares entre judeus ashkenazitas.
– Sufganiyot: Donuts recheados com geleia, particularmente populares em Israel.


Estas tradições culinárias desenvolveram-se em diferentes comunidades judaicas, com variações regionais refletindo ingredientes e técnicas culinárias locais.



O sevivon (ou dreidel), um pião de quatro lados, é tradicionalmente jogado durante Chanucá. Cada lado do dreidel contém uma letra hebraica – Nun, Gimel, Hei, Shin – formando o acrônimo para “Nes Gadol Hayah Sham” (“Um grande milagre aconteceu lá”). Em Israel, o Shin é substituído por Pei, formando “Nes Gadol Hayah Po” (“Um grande milagre aconteceu aqui”).

Outro costume é dar gelt (dinheiro) às crianças, seja moedas reais ou de chocolate, incentivando-as a estudar Torah e praticar tzedaká (caridade).

Chanucá celebra fundamentalmente a luta pela liberdade religiosa – o direito dos judeus de praticar sua religião sem interferência ou opressão. Os Macabeus lutaram não apenas contra dominação política estrangeira, mas especificamente contra tentativas de forçar os judeus a abandonar suas práticas religiosas distintas.

Este tema ressoa poderosamente através da história judaica, particularmente em períodos de perseguição religiosa, e continua relevante em discussões contemporâneas sobre liberdade religiosa e direitos das minorias.



O simbolismo da luz triunfando sobre a escuridão é central para Chanucá, que ocorre próximo ao solstício de inverno no hemisfério norte, quando as noites são mais longas. As luzes da chanukiá representam esperança, fé e perseverança em tempos sombrios.

Como expressa o rabino Jonathan Sacks: “A mensagem de Chanucá é que a luz pode ser derrotada pela escuridão, a verdade pela falsidade, o poder pela violência. Mas apenas temporariamente. No final, as forças da luz retornam.”



Identidade e Assimilação

A revolta dos Macabeus ocorreu não apenas contra opressores externos, mas também contra judeus helenizados que haviam adotado práticas e valores gregos. Assim, Chanucá levanta questões perenes sobre identidade judaica, assimilação, e o equilíbrio entre participação na cultura mais ampla e manutenção de tradições distintas.

Estas questões permanecem profundamente relevantes para comunidades judaicas contemporâneas navegando entre preservação da tradição e engajamento com sociedades modernas pluralistas.






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