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Por: David Havilá
📜Costumes Diários do Judaísmo: Introdução
- Imagine um dia onde cada ato, do despertar ao adormecer, é uma ponte para o sagrado. Enquanto muitas religiões concentram suas práticas em locais de culto ou datas específicas, o Judaísmo se distingue por tecer a espiritualidade em cada fibra da existência. Para um judeu observante, a rotina não é meramente uma sequência de tarefas, mas um mosaico de tradições milenares que transformam o mundano em uma oportunidade de conexão e identidade.
- Nesta jornada, exploraremos os cinco pilares que sustentam essa vivência: as leis alimentares de Kashrut, a ilha de paz semanal do Shabat, o diálogo constante da oração diária (Tefilá), a expressão de dignidade através do vestuário (Tzniut) e os rituais que santificam cada etapa do ciclo da vida. Cada um desses elementos revela como o Judaísmo busca encontrar o extraordinário no ordinário.
Kashrut: A Espiritualidade no Prato
No coração da vida judaica, encontramos a Kashrut, o abrangente sistema de leis dietéticas que é um dos mais distintos traços do Judaísmo. Longe de serem restrições arbitrárias, essas leis elevam o ato de comer, transformando a nutrição do corpo em um exercício de disciplina, consciência e santidade.
O Que é Kosher?
A palavra hebraica “kosher” (ou “kasher”) significa “adequado” ou “apropriado”. Aplicada aos alimentos, ela designa o que é permitido segundo as leis da Torah (principalmente em Levítico 11 e Deuteronômio 14) e as detalhadas interpretações rabínicas. Tudo começa pela distinção entre os animais.
- Mamíferos Permitidos: Apenas aqueles que simultaneamente ruminam e têm o casco fendido, como bois, ovelhas e cabras. Isso exclui porcos, coelhos e camelos.
- Aves Permitidas: A Torah lista as aves proibidas (em sua maioria, de rapina). A tradição mantém o consumo daquelas historicamente conhecidas como kosher, como galinha, peru e pato.
- Vida Aquática Permitida: Apenas peixes com escamas e barbatanas são kosher. Salmão, atum e truta estão dentro, enquanto mariscos, crustáceos (camarão, lagosta) e peixes como o tubarão estão fora.
- Insetos: Com raras exceções (como certos gafanhotos em algumas comunidades), são proibidos.
Do Abate à Mesa: Um Processo Consciente
Para que a carne de um animal permitido seja kosher, ela deve passar por um processo rigoroso.
- Shechitá (Abate Ritual): Realizado por um shochet (abatedor ritual) treinado, o abate é feito com uma faca perfeitamente afiada, em um único corte rápido e contínuo. O objetivo é minimizar o sofrimento do animal e garantir a máxima drenagem do sangue, cujo consumo é estritamente proibido pela Torah.
- Inspeção e Remoção: Após o abate, a carne é inspecionada por anomalias que a tornariam não-kosher. Partes proibidas, como certas gorduras e o nervo ciático (em memória da luta de Jacó com o anjo), são removidas.
- Remoção do Sangue: A carne é salgada ou grelhada para extrair todo o sangue remanescente.
A Separação Sagrada: Carne e Leite
Um dos princípios mais emblemáticos da Kashrut é a separação total entre carne (fleishig) e laticínios (milchig). Baseado no mandamento “Não cozerás o cabrito no leite de sua mãe”, repetido três vezes na Torah, os rabinos proibiram não apenas cozinhar, mas também consumir ou servir os dois juntos. Uma cozinha kosher, portanto, possui conjuntos separados de utensílios, panelas e pratos para cada grupo. Após uma refeição de carne, aguarda-se um período (geralmente de 3 a 6 horas) antes de consumir laticínios. Alimentos neutros, como frutas, vegetais e peixes, são chamados de parve e podem ser consumidos com ambos.
O Significado Espiritual
As razões para a Kashrut são profundas e multifacetadas. Elas ensinam disciplina e santidade, lembrando que até o ato mais básico pode ser elevado. Mantêm uma consciência constante da presença divina na vida diária. Fortalecem a identidade judaica e ensinam compaixão pelos animais. A Kashrut transforma cada refeição em uma declaração de fé e um elo com uma tradição milenar.
Se a Kashrut santifica o que entra em nosso corpo, o Shabat santifica o próprio tempo.
Shabat: Um Santuário no Tempo
Observado do pôr do sol de sexta-feira até o anoitecer de sábado, o Shabat é o ápice da semana judaica e uma de suas mais preciosas instituições. Inspirado no descanso de Deus no sétimo dia da Criação e ordenado nos Dez Mandamentos, o Shabat é muito mais que a ausência de trabalho; é uma experiência imersiva de paz, deleite e renovação espiritual, um verdadeiro “santuário no tempo”, como descreveu o Rabino Abraham Joshua Heschel.
Da Preparação à Celebração
A magia do Shabat não surge abruptamente; ela é construída com intenção ao longo da sexta-feira (Erev Shabat). A casa é limpa, as melhores roupas são separadas e refeições festivas são preparadas com antecedência. A transição para o sagrado é marcada por rituais que enchem o lar de luz e paz.
- Acendimento das Velas: 18 minutos antes do pôr do sol, a mulher da casa (tradicionalmente) acende duas velas, simbolizando os mandamentos de “lembrar” e “guardar” o Shabat. Com uma bênção, a paz do Shabat é formalmente convidada a entrar.
- Kidush e Refeição Festiva: A noite começa com o Kidush, uma bênção sobre o vinho que santifica o dia. A refeição inclui a chalá (pão trançado), canções (zemirot) e conversas que elevam o espírito, transformando a mesa de jantar em um altar.
As Fronteiras da Criatividade
O descanso (menuchá) do Shabat envolve a abstenção de 39 categorias de trabalho criativo (melachot), derivadas das atividades envolvidas na construção do Tabernáculo no deserto. Em nosso mundo moderno, essas categorias se traduzem na proibição de atividades como:
- Cozinhar, acender fogo (o que inclui o uso de eletricidade e eletrônicos).
- Dirigir, fazer compras, escrever.
- Construir, plantar ou realizar qualquer ato que altere o estado do mundo de forma criativa.
Para o observante, essas restrições não são um fardo, mas uma libertação. Elas nos desconectam das pressões da produtividade e do consumismo, abrindo espaço para a família, a comunidade, a reflexão e a simples alegria de existir. O Shabat é um testemunho da Criação, um memorial do Êxodo do Egito e um vislumbre do Mundo Vindouro.
Com o corpo nutrido de forma consciente e o tempo santificado pelo descanso, a alma busca o diálogo. É aqui que entra a Tefilá.
Tefilá: O Diálogo da Alma
A oração no Judaísmo, Tefilá, não é um ato esporádico, mas um pilar estruturado da vida diária. A raiz da palavra sugere autoavaliação, indicando que orar é tanto falar com Deus quanto um processo de introspecção e alinhamento com os valores divinos. Os sábios estabeleceram três serviços diários, correspondendo aos antigos sacrifícios do Templo:
- Shacharit: Oração da manhã.
- Minchá: Oração da tarde.
- Arvit (ou Maariv): Oração da noite.
Em comunidades tradicionais, a oração matinal é acompanhada de objetos sagrados: o Talit, um manto com franjas (tzitzit) que lembram os mandamentos, e os Tefilin, caixas de couro com pergaminhos amarradas ao braço e à cabeça, simbolizando a dedicação do coração e da mente a Deus.
As Orações Centrais
O coração pulsante da liturgia judaica é composto por duas partes principais:
- Shemá Israel: (“Ouve, ó Israel, o Senhor é nosso Deus, o Senhor é Um”). Esta é a declaração fundamental da fé monoteísta judaica, recitada pela manhã e à noite.
- Amidá: (“A Oração de Pé”). Considerada a conversa mais íntima e estruturada que um judeu trava com Deus, a Amidá é recitada silenciosamente em cada serviço. Sua estrutura combina louvor, uma série de petições (por sabedoria, saúde, redenção) e, finalmente, gratidão.
Embora a oração individual seja válida, a oração comunitária em um minyan (quórum de dez adultos) é fortemente encorajada, pois acredita-se que a força da comunidade eleva a prece de todos. Acima de tudo, a oração requer kavanah – intenção e concentração. A oração sem kavanah, ensinam os sábios, “é como um corpo sem alma”.
Essa consciência interna, cultivada na oração, transborda para a forma como o judeu se apresenta ao mundo. Este é o domínio da Tzniut.
Tzniut: A Dignidade no Vestir e Agir
Tzniut, frequentemente traduzido como modéstia ou recato, é um princípio abrangente que rege a fala, o comportamento e, de forma mais visível, o vestuário. Sua base é a ideia de que o valor humano reside no caráter e na alma, não na aparência externa. O corpo é visto como um “templo divino”, merecedor de respeito e dignidade.
Vestuário Masculino
Em comunidades tradicionais, o vestuário masculino expressa respeito e identidade:
- Kipá (ou Yarmulke): O solidéu usado na cabeça é um sinal constante de respeito e reconhecimento da presença de Deus acima.
- Tzitzit: As franjas visíveis em uma peça de roupa usada sob a camisa (talit katan) servem como um lembrete visual contínuo dos mandamentos.
- Vestimentas Hassídicas/Ultraortodoxas: Roupas como casacos e chapéus pretos, além da barba e dos cachos laterais (peyes), refletem tradições europeias preservadas como um elo com o passado e uma barreira contra a assimilação.
Vestuário Feminino
As práticas de tzniut para mulheres focam em cobrir certas partes do corpo, como cotovelos e joelhos, e usar decotes discretos, evitando roupas excessivamente justas ou chamativas. Uma das práticas mais distintivas é a cobertura do cabelo para mulheres casadas, que pode ser feita com lenços (tichel), perucas (sheitel) ou chapéus. Este ato é visto como um sinal de dignidade, status marital e uma forma de reservar a beleza mais íntima para o âmbito privado do casamento.
A Tzniut não é sobre se esconder, mas sobre escolher o que revelar. É uma afirmação da primazia da interioridade e do valor intrínseco de cada pessoa.
Da expressão diária da fé, passamos aos grandes marcos que pontuam a existência. O Judaísmo acompanha cada etapa da jornada humana, do primeiro suspiro ao último, com rituais que tecem o fio da vida individual na tapeçaria da tradição coletiva.
O Ciclo da Vida: Santificando cada Etapa
O Judaísmo marca as transições da vida com rituais que conectam o indivíduo à sua herança e comunidade, conferindo significado e estrutura à jornada humana.
Nascimento
- Brit Milá (Circuncisão): No oitavo dia de vida, um menino é introduzido na aliança de Abraão através da circuncisão, um ato simbólico profundo de identidade e compromisso.
- Simchat Bat (Celebração para Meninas): Em cerimônias modernas e tradicionais, o nascimento de uma menina é celebrado com bênçãos e a concessão de seu nome hebraico, acolhendo-a na comunidade.
- Pidyon HaBen (Resgate do Primogênito): Um ritual antigo que resgata simbolicamente o filho primogênito de seu serviço sagrado, lembrando a história do Êxodo.
Maturidade Religiosa
O Bar Mitzvá (para meninos aos 13 anos) e o Bat Mitzvá (para meninas aos 12 ou 13) marcam a transição para a responsabilidade adulta perante os mandamentos. Não é uma formatura, mas o início de uma vida judaica consciente, geralmente celebrado com a primeira leitura pública da Torah.
Casamento
O casamento judaico, celebrado sob a chupá (dossel nupcial), é a criação de um novo lar. A cerimônia inclui a troca de anéis, a leitura da ketubá (contrato de casamento que detalha as obrigações do marido) e as Sheva Berachot (Sete Bênçãos). O ritual culmina com a famosa quebra do copo, um ato com múltiplos significados: um lembrete da destruição do Templo de Jerusalém mesmo na maior alegria, e um símbolo da fragilidade das relações humanas, que exigem cuidado constante para não se quebrarem.
Morte e Luto
O Judaísmo encara a morte com realismo, respeito e uma estrutura de apoio aos enlutados.
- Preparação e Enterro: O corpo é tratado com o máximo respeito pela Chevra Kadisha (sociedade sagrada), lavado e vestido em mortalhas simples de linho branco, simbolizando a igualdade na morte. O enterro é realizado o mais rápido possível.
- Períodos de Luto: O luto é estruturado para guiar a pessoa da dor intensa de volta à vida. Começa com a Shivá (sete dias de luto intenso em casa), seguida por Sheloshim (trinta dias de luto menos restrito) e, para quem perdeu um pai ou mãe, um ano de luto. O Kadish, uma oração que santifica o nome de Deus, é recitado pelos enlutados, reafirmando a fé mesmo diante da perda.
Encontrando o Sagrado no Ordinário
Os costumes diários judaicos, da cozinha à sinagoga, do nascimento ao luto, formam um sistema integrado e profundo. Eles transformam atividades rotineiras em atos de consciência, disciplina e conexão. Não são meras regras, mas ferramentas para construir uma vida de significado.
Como ensinou o Rabino Abraham Joshua Heschel: “O Judaísmo ensina-nos a sentir a santidade do conteúdo do tempo… a sentir o sabor da eternidade em cada bocado de existência.”
Em um mundo que muitas vezes nos empurra para a pressa e a superficialidade, esses costumes oferecem um contraponto poderoso. Eles convidam o praticante a viver com propósito, a encontrar o divino no detalhe, e a transformar a própria vida em um ato de santificação.
Referências
- Torá: Levítico 11 e Deuteronômio 14 (Leis de Kashrut), Êxodo 20:8-11 (Mandamento do Shabat), Deuteronômio 6:4-9 (Shemá)
- Talmud: Tratado Berachot (Leis de Oração), Tratado Shabbat (Leis do Shabat), Tratado Chullin (Leis de Kashrut)
- Shulchan Aruch: Orach Chaim (Leis de Oração e Shabat), Yoreh Deah (Leis de Kashrut)
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