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Por: David Havilá
Algumas pessoas tinham a impressão equivocada de que, se os piedosos às vezes chegavam a extremos, eles também deveriam fazê-lo, se quisessem ser piedosos. No mínimo, essa era uma ideia nobre. Pois esses indivíduos buscavam ser especialmente bons e, nesse processo, pretendiam apenas se aproximar de D’us . Mas estavam terrivelmente enganados.
(Bem, talvez eles não estivessem apenas tentando ser bons porque, verdade seja dita, muitas vezes fazemos a coisa certa pelos motivos errados: para agradar os outros, talvez; para convencê-los de coisas erradas sobre nós mesmos; para esconder iniquidades eclipsando-as com aparências adequadas; para nos adaptarmos a uma comunidade e coisas do tipo. De qualquer forma, vamos presumir que as pessoas que Rambam descreveu acima estavam cometendo erros bem-intencionados.)
Assim, “eles afligiam seus corpos de todas as maneiras e acreditavam que… estavam fazendo o bem, pois (pensavam) que era assim que uma pessoa se aproxima de D’us”. Mas isso é um absurdo, disse Rambam, pois pressupõe que “D’us se opõe ao corpo e quer destruí-lo e aniquilá-lo!”, quando Ele não quer de forma alguma. Pois, como indicamos, o ideal judaico é a mistura certa de corpo e alma, e D’us não quer que nos machuquemos fisicamente, assim como não quer que nos contorçamos psicologicamente (fazendo de tudo para nos assustar, por exemplo, ou tentando nos iludir, e coisas do tipo).
Esses indivíduos “nunca perceberam que essas eram, na verdade, coisas ruins de se fazer e que, dessa forma, adquiririam falhas”, já que estavam indo muito além dos limites e não tinham um bom motivo para isso, como aqueles (poucos) indivíduos justos tiveram quando seguiram esse caminho (e apenas por um tempo).
De fato, Rambam comparou os que estavam errados ao “tolo que nada sabia sobre medicina, que viu alguns grandes médicos aplicando catárticos a pacientes terminais… que foram curados e cujas vidas foram (assim)… salvas”, e que então raciocinou consigo mesmo: “Se essas coisas podem curar uma pessoa doente, então certamente manteriam uma pessoa saudável e até a tornariam mais saudável!”. Então, eles começariam a tomar catárticos sem nenhum motivo aparente e ficariam doentes!
O que ele quer dizer é que se o seu Espírito não estiver tão desequilibrado, mas você fizer coisas extremas para corrigi-lo, você o desequilibrará no processo e fará muito mais mal do que bem a si mesmo.
Mas alguns podem perguntar: “Por que, afinal, não estamos todos desequilibrados, então não precisamos mesmo de remédios?” A resposta curta é: sim, precisamos. Mas, embora todos precisemos adicionar alguns “suplementos” à nossa prática religiosa, poucos de nós deveríamos chegar ao ponto que Rambam comparou a tomar “catárticos”, que são remédios bastante extremos que tendem a castigar o corpo e só devem ser usados em circunstâncias extremas.
Mais uma vez, devemos lutar pelo equilíbrio e pela harmonia em nossa vida espiritual e só ultrapassar os limites quando buscamos a verdadeira piedade — e mesmo assim, somente até certo ponto.
