Sinais de Santidade – Os Animais que a Torá nos Permite Consumir

Por: David Havilá 

  • A tradição judaica nos ensina que somos profundamente afetados pela energia daquilo que consumimos. A comida não apenas nutre nosso corpo, mas também tem um impacto sutil, porém real, em nossa alma (nefesh). Por isso, a Torá, em sua sabedoria Divina, não nos deixou a esmo no vasto mundo da natureza. Ela nos forneceu um guia, um conjunto de simanim sinais físicos e características que nos permitem discernir quais criaturas estão espiritualmente alinhadas com a nossa missão de sermos “um reino de sacerdotes e uma nação santa”.
  • Vamos explorar esses “Sinais de Santidade” nas três principais categorias de criaturas, descobrindo que cada sinal físico é um eco de uma profunda lição espiritual.

1. Mamíferos: A Harmonia entre a Ação e a Contemplação

No reino dos animais que andam sobre a terra, a Torá estabelece duas condições que devem ser cumpridas simultaneamente para que um animal seja considerado kosher. Como está escrito:

“Todo animal que tem o casco fendido, e a fenda se divide em duas, e rumina, entre os animais, esse podereis comer.” (Levítico 11:3)


Os dois sinais são, portanto:

  1. Casco Fendido (Parsa Sedu'a): A pata do animal deve estar completamente dividida em duas partes.
  2. Ruminação (Ma'aleh Gerah): O animal deve regurgitar seu alimento e mastigá-lo novamente.

Animais como bois, ovelhas, cabras e veados possuem ambos os sinais e são, portanto, kosher. A Torá, em sua precisão, até mesmo lista os animais que possuem apenas um dos sinais, para que não haja dúvidas. O camelo, a lebre e o arganaz ruminam, mas não têm o casco fendido. O porco, por outro lado, tem o casco fendido, mas não rumina. Todos estes são explicitamente proibidos.


O Significado Espiritual dos Sinais:

Nossos Sábios nos ensinam que esses sinais físicos refletem arquétipos espirituais.

  • O casco fendido simboliza nossa interação com o mundo material. Estamos com os “pés no chão”, firmemente plantados na realidade da vida. A fenda, a divisão, representa a nossa capacidade e obrigação de fazer distinções, de separar o certo do errado, o sagrado do profano. Não estamos presos à terra sem discernimento; nós a navegamos com clareza moral. O porco, que ostenta cascos fendidos para o mundo ver, mas não possui a qualidade interna da ruminação, tornou-se na tradição o símbolo clássico da hipocrisia – uma aparência externa de retidão que esconde uma natureza impura.
  • A ruminação representa nosso mundo interior, o processo de contemplação. Um ruminante não engole seu alimento de uma vez; ele o traz de volta, o mastiga lentamente, pondera sobre ele, extraindo cada nutriente. Da mesma forma, somos ensinados a não “engolir” nossas experiências, aprendizados e, especialmente, as palavras da Torá de forma apressada. Devemos refletir, contemplar e meditar sobre eles para extrair toda a sua sabedoria e integrá-los verdadeiramente em nosso ser.

Assim, um animal kosher personifica o ideal de uma vida equilibrada: uma existência aterrada e prática, combinada com uma vida interior rica e contemplativa.


Para as criaturas aquáticas, a Torá também nos dá dois sinais claros e simultâneos:

“Isto comereis de tudo o que há nas águas: tudo o que tem barbatanas e escamas… comereis.” (Levítico 11:9)

  1. Barbatanas (Snapir): Permitem que o peixe se mova e direcione seu caminho com independência.
  2. Escamas (Kaskeset): Devem ser escamas que possam ser facilmente removidas sem rasgar a pele do peixe, funcionando como uma armadura.

Peixes como salmão, atum, carpa, truta e linguado são kosher. Todas as outras criaturas do mar — como camarão, lagosta, caranguejo, ostras, polvos e enguias, bem como mamíferos aquáticos como baleias e golfinhos — são proibidas. O Talmud nos ensina uma regra útil: todo peixe que tem escamas kosher também tem barbatanas, então a presença de escamas é um indicador confiável.


O Significado Espiritual dos Sinais:

As águas, em nossa tradição, muitas vezes simbolizam o mundo material, com suas correntes turbulentas, pressões sociais e profundezas ocultas.

  • As barbatanas representam a nossa capacidade de navegar neste mundo com propósito e direção, de não sermos simplesmente levados pelas correntes da moda ou de ideologias passageiras. Elas simbolizam um sistema de valores (a Torá) que nos impulsiona para a frente em nosso caminho escolhido.
  • As escamas funcionam como uma armadura protetora. Elas protegem o peixe do ambiente muitas vezes hostil e impuro ao seu redor. Para nós, as escamas simbolizam as mitzvot e as práticas judaicas, que nos protegem das influências negativas do mundo exterior, permitindo-nos viver no mundo sem sermos espiritualmente corrompidos pelo mundo.

Curiosamente, para as aves, a Torá não fornece sinais universais. Em vez disso, ela nos dá uma lista de cerca de 24 espécies de aves proibidas (Levítico 11:13-19). Ao analisar esta lista, nossos Sábios observaram um padrão claro: todas as aves proibidas são aves de rapina ou carniceiras.

A partir disso, eles derivaram a regra de que as aves permitidas são aquelas que não são predadoras. A lição espiritual aqui é talvez a mais direta de todas: somos proibidos de consumir simbolicamente a crueldade. A Torá nos ensina que a energia da presa e a natureza predatória não são “alimentos” adequados para uma alma que busca a compaixão e a gentileza. Somos o que comemos, e devemos nos esforçar para absorver as qualidades da pomba, não do falcão.

Devido à dificuldade de identificar com certeza todas as aves hoje em dia, a prática haláchica (halachá) é comer apenas aquelas aves para as quais existe uma mesorá uma tradição ininterrupta e aceita de que são kosher. É por isso que frango, peru, pato, ganso e pombo são universalmente aceitos.

Em última análise, as leis que governam quais animais podemos comer são um reflexo profundo da visão de mundo da Torá. Elas nos ensinam a ver o mundo não apenas como uma fonte de sustento, mas como um livro de lições espirituais, nos convidando a viver com discernimento, a proteger nossa alma e a cultivar um caráter de gentileza.



Na Fonte Haláchica

As leis detalhadas sobre os sinais dos animais kosher são a base do Talmud Babilônico, Tratado Chullin, que explora extensivamente cada um desses simanim (sinais). A codificação definitiva dessas leis encontra-se no Shulchan Aruch, Yoreh De’ah, seções 79-86. A Torá em si fornece as listas primárias em Levítico, Capítulo 11 e Deuteronômio, Capítulo 14.



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